Não sei se vocês conhecem, mas aqui em Florianópolis/SC tem uma sorveteria italiana muito visitada na praia dos Ingleses, no norte da ilha. No verão, frequentemente eu e minha família vamos lá. O sorvete é maravilhoso e tem muitas opções de sabores. Um dia levei minhas tias lá.
Uma delas, minha madrinha, ficou angustiada na hora de decidir qual sabor queria e de seu jeitinho especial me falou: ”ai, escolhe pra mim porque são muitos sabores e não consigo me decidir.” Nesse momento, constatei o que já sentia há algum tempo toda vez que vou lá. A infinidade de sabores de sorvetes nos paralisa a escolha. Eu acabo sempre escolhendo os mesmos sabores, não porque não quero provar algo diferente, mas porque me atrapalho na hora de escolher.
Essa não é uma constatação minha. O psicólogo e professor americano Barry Schwartz levantou essa discussão no seu livro “O Paradoxo da Escolha”. Para Berry, a liberdade para escolher e consequentemente o excesso de opções de escolhas tende a gerar insatisfação e frustração já que quando escolhemos alguma coisa, deixamos de escolher outras.
Minha mãe saiu cedo da colônia onde morava com seus pais e irmãos, para estudar fora, muito longe de casa. Não existia liberdade de escolha para ela. Ou estudaria para ser professora ou secretária ou seria freira. Era um destino dado para a época em que vivia. Ela não teve outras opções porque naquele tempo, no lugar onde morava, a informação sobre a possibilidade de ser outra coisa que uma professora, freira ou secretária não chegava. Para ela, isso foi uma oportunidade e não uma frustração, até porque foi a única de 20 irmãos, que estudou.
Essa “ignorância” não permitiu que sofresse com a liberdade de escolha. Não existiam outras opções. Diferentemente do contexto atual, onde temos uma gama de informações rápidas e de fácil acesso, chegando a qualquer tempo e por diversos meios. Um estudante atual, mesmo morando em um lugar isolado, tem infinitas possibilidades de escolha.
Veja bem, Berry não afirma que seria melhor não termos liberdade de escolha, apenas contextualiza que quanto mais estamos livres para escolher e quanto mais opções de escolha temos, mais tendemos a dificuldade da escolha certa. Eis o paradoxo da escolha.
Nosso acesso à informação é ilimitado. Encontramos informação para tudo, desde profissão, cozinha, identidade sexual, raça, crenças e credos, infinidade de produtos e serviços. Não tínhamos tanto acesso há bem poucos anos atrás.
A liberdade em escolher é maravilhosa, mas a escolha errada não. Tendemos a demorar muito mais para tomar uma escolha simples, cotidiana, ou duvidar do que realmente queremos para nós, já que aquilo que não escolhemos, ou as escolhas dos outros, sempre parecem mais “apetitosas” que as nossas. Além da frustração de deixarmos pra trás tantas coisas interessantes, criamos muita expectativa naquilo que escolhemos, desejando que nossa escolha supere todas as outras escolhas que deixamos de fazer.
Neste contexto, como fugir da tentação de escolher por alienação, movidos pelo paradoxo da escolha?
A resposta para essa pergunta requer outras perguntas: Qual é sua real necessidade? o que você realmente deseja para o seu ser? qual seu propósito e como você tem priorizado suas escolhas para concretizá-lo?
Quando sabemos o que queremos, a possibilidade de sermos contaminados pelo paradoxo da escolha diminui. Priorizamos a escolha que tem sentido para nosso ser, que está dentro de nosso campo de possibilidades em direção ao projeto que escolhemos ser.
Não quer dizer que outras coisas não nos atraem mais, mas perdem a função de atrapalhar e desvirtuar a caminhada rumo ao propósito de ser.
Dicas para não se perder no paradoxo da escolha:
● Tenha certo o que quer e se ainda não sabe, procure saber;
● Não se perca com escolhas fúteis, foque no que realmente é importante;
● Não seja Maria-vai-com-as-outras. Não é porque todo mundo está escolhendo aquilo, que isto serve pra você;
● Tenha presente que não escolher já é uma escolha;
● Coloque no papel todas as opções de escolha. Você perceberá que muitas delas são conceitos criados para te entreter e não aquilo que realmente cabe no seu ser;
● Se no fim de tudo você ainda não conseguir escolher, escolha no uni duni tê. Melhor o movimento do que a estagnação da ação.
Escolher bem é um ato consciente de amor por si mesmo!
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